Viajar sozinhA.

Diz que hoje é o dia Internacional da Mulher e portanto foi a data que eu escolhi para vos contar um pouco do que tem sido a minha experiência de viajar sozinha.
Apesar de discordar em muito do que são as batalhas feministas hoje em dia (podia estar aqui a escrever que sou contra as cotas, que acho uma palermice a associação galanteio/assédio e que igualdade me parece uma palavra muito desadequada porque nós não somos iguais aos homens - e isso é óptimo -, mas como não quero ser linchada em praça pública esse tema não estará em discussão hoje), não há como fugir da realidade de que o mundo é ainda hoje um lugar mais perigoso para as mulheres do que para os homens.
Mas para mim, combater essa situação não pode passar por ficar em casa, mas sim por ir, ir sempre, até que o mundo se habitue a ver-nos sozinhas. Ou a ver-nos acompanhadas. A ver-nos como nos bem apetecer, e a achar isso normal.

Felizmente a minha experiência pessoal foi óptima sempre que viajei sozinha ou com uma amiga, e apenas vivi o reverso da medalha, porque se estarmos sozinhas nos expõe mais ao perigo, também nos torna mais inofensivas aos olhos dos outros e consequentemente mais bem tratadas e ajudadas.
Apesar de ter sido num dos locais mais ´fáceis´, viajar sozinha pelo centro da Europa, quando estive a morar na Eslováquia, foi um dos maiores desafios, principalmente porque implicava deslocar-me com duas malas (uma delas gigante) mais casaco, carteira e afins por entre estações, aeroportos, autocarros... E consigo contar pelos dedos das mãos as vezes em que efectivamente fui eu que subi/desci um lance de escadas com tudo às costas.
(Aproveito a ocasião para deixar um agradecimento público a moço que me carregou as duas malas por uma escadaria gigante a cima, na estação de comboios de Estugarda. A minha cara de desespero quando chego ao fundo das escadas, varro o horizonte com o olhar à procura dum elevador que não encontrei, levanto o olhos e vejo aqueles degraus todos, devia ser assustadora, mas felizmente havia um alemão simpático que tinha acabado de descer as escadas e voltou a subi-las todas para me ajudar.)

Mas como nem tudo são rosas e efectivamente os problemas existem, tenham sempre o máximo cuidado e tomem todas as precauções possíveis, deixo-vos aqui algumas ideias que tento sempre seguir, balanceando-as com o bom senso: (Não adianta ignorar as diferenças de perigo potencial entre um fim de semana no centro da Europa e um mochilão na Índia)

- Informem-se sobre o local antes de partir, o feedback de outros viajantes pode dar-vos uma ideia da realidade e dos perigos que podem encontrar no local para onde vão.

- Mantenham alguém informado. Onde vão estar, o percurso que vão fazer, em que hotéis estarão, os horários das viagens que vão realizar.

- Escolham um alojamento bem localizado que não vos obrigue a deslocar sozinhas por locais mais isolados.

- Prefiram locais movimentados e evitem saídas à noite. Como em todo o lado haverá locais em que é seguro fazê-lo e outros em que não é, num país diferente, numa cidade que vos é ainda estranha dificilmente vão conseguir distinguir previamente entre os dois.

- Vistam-se sempre da forma mais parecida possível com as locais, não só respeita os seus costumes mas impede que chamem ainda mais à atenção.

- Adiram a visitas guiadas sempre que acharem melhor ideia, em alguns locais em que se torna realmente complicado viajar sozinha, seja pelas diferenças culturais do país ou por ser um local mesmo inóspito, contratem um guia e vão com outros turistas, em algumas circunstâncias a segurança que isso vos traz compensa largamente os inconvenientes de andar agarrada a um grupo.

- Sejam simpáticas, mas estejam permanentemente vigilantes. E aproveitem a viagem, porque é a melhor maneira de aproveitar a vida e nos tornarmos mais tolerantes.

          
          
E animem-se que com o famoso pau de selfie, metade dos vossos problemas para tirar uma simples fotografia acabaram. Para resolver a outra metade haverá sempre um espelho, um muro ou umas escadas onde pousar a máquina, ou então aderem à selfie do pé. Vale tudo, menos ficar em casa.

Etiquetas: